Maçonaria no Mundo
A Maçonaria moderna alicerça-se nas confrarias de artesãos existentes na Idade Média que, de certa forma, na sua estrutura e princípios, eram herdeiras de outras organizações profissionais mais antigas, nomeadamente dos ‘Collegia’ romanos.
Os ‘Collegia’ romanos, eram associações de artesãos que, entre outras obras, se investiam na construção de edifícios sagrados – Templos – que eram os lugares de culto aos deuses tutelares. Tinham por isso uma função de formação profissional dos seus associados, mas também um papel importante no seu desenvolvimento espiritual. A admissão no seio dos ‘Collegia’ fazia-se através de uma cerimónia de iniciação ritual durante a qual eram transmitidos aos novos membros os segredos da arte, os gestos e os sinais de reconhecimento dos membros entre si – prática provavelmente herdada das tradições Grega, Persa e Egípcia e ligada aos ‘mistérios’ comuns aos povos da Antiguidade, dos quais os mais célebres são os Mistérios de Eleusis.
Estes ritos sobreviveram mesmo após o advento do Cristianismo que, em muitos casos, os adoptou e incorporou, substituindo os Deuses Tutelares pelo Santos Patronos.
Nalguns lugares ainda há vestígios históricos da existência destes ‘Collegia’ nos Sec VII e VIII, mas a sociedade feudal não podia tolerar a existência de profissionais que não prestassem vassalagem a um suserano como seus servos. Os ‘Collegia’ extinguem-se e os seus membros recolhem-se aos conventos e mosteiros que nessa época são os únicos centros de irradiação de cultura e conhecimento, no seio de uma sociedade mergulhada nas trevas e na ignorância. Os monges tornam-se assim os únicos herdeiros do conhecimento da arte de construir e são eles mesmos a dirigir os trabalhos de construção dos novos Templos.
A Maçonaria ‘Operativa’
O advento do gótico, nos Sec XI e XII cria novas exigências no conhecimento das técnicas de construção. Os Mestres-de-Obras laicos, formados pela mão dos monges desenvolvem e ultrapassam os conhecimentos que lhes foram transmitidos e constituem, no exterior, associações de construtores que, apesar de serem laicas, mantêm todo o seu carácter sagrado e continuam, pelo menos em parte, na sua estrutura e funcionamento, a tradição dos ‘Collegia’ romanos.
A ‘febre’ de construção de catedrais, palácios e castelos que se apoderou dos Reis e Senhores daquela época, conferiu a estas confrarias uma importância tal que lhes permitiu libertar-se dos laços de vassalagem e do pagamento de impostos, tendo sido dada aos seus membros a liberdade de se deslocarem de país para país, de estaleiro para estaleiro. São os ‘Pedreiros-Livres’, Franc-Maçons, ou Free-Masons. Tais privilégios deviam ser preciosamente guardados e mantidos. Isso fazia-se através do uso de rigorosos critérios na admissão de novos membros e da transmissão dos conhecimentos da arte sendo vital para a própria confraria evitar ser ‘penetrada’ por impostores. Reforça-se a prática dos Ritos de Iniciação e Passagem e da manutenção e guarda dos ‘segredos’, das palavras e sinais de reconhecimento entre os seus membros.
As confrarias de obreiros livres eram, como toda a sociedade de então, profundamente religiosas e trabalhavam sob os auspícios de um ou vários Santos Patronos. No caso das confrarias de construtores os Santos Patronos eram os dois S. João, o Baptista e o Evangelista, cujas festas coincidiam com os dois solstícios do ano (o de Verão e o de Inverno, respectivamente) e que por isso eram, cada um à sua maneira, anunciadores da LUZ. Para se ser digno de construir casas para Deus, era necessário possuir-se uma elevação espiritual à altura dessa tarefa sagrada. Por isso, estes construtores de catedrais consideravam que a sua tarefa primeira era a de construir o seu templo interior, era o seu desenvolvimento moral e espiritual. E era a construção destes dois templos ( o templo de pedra e o templo interior de cada um deles) o que os ocupava nas reuniões das ‘lojas’ que funcionavam junto dos estaleiros de construção das catedrais.
Além do mais, estas confrarias desempenhavam um importante papel de socorro e ajuda entre os seus membros, de formação cívica e de ‘bons costumes’, como o atesta o Manuscrito Regius do Sec XIV.
A Maçonaria Moderna – Especulativa
Este tipo de funcionamento e os seus privilégios tornavam estas associações atractivas para muitos ‘não-pedreiros’.
Fossem prelados ou homens de poder e de prestígio, foi ‘aceite’ a sua entrada nas Lojas destas confrarias como guias espirituais ou como patronos influentes. Para os distinguir dos obreiros operativos (‘Livres’) foi-lhes dado o nome de ‘Aceites’. A primeira Loja a aceitar um ‘não-pedreiro’ como membro, foi a Loja Mary’s Chapel nº 1, da Escócia.
Com o passar do tempo e a liberalização da sociedade, estas corporações perdem importância e influência e o número dos seus membros ‘operativos’ decresce, aumentando o número de membros ‘Aceites’. A Maçonaria perde o seu carácter de construção ‘material’ (operativa) e desenvolve o seu lado filantrópico, filosófico, social e espiritual – especulativo.
Estas Lojas, já sem carácter operativo, têm um desenvolvimento e um sucesso verdadeiramente inesperados.
Inglaterra
O receio de ver estas Lojas invadidas por ideias e inovações contrárias ao seu espírito foi talvez uma das razões que levou à criação de uma potência que reunisse as Lojas existentes e estimulasse a criação de novas Lojas. Esta potência deveria ser dotada do poder de decidir que Lojas obedeciam aos preceitos considerados convenientes e de as integrar. Nasce assim, no dia de S. João Batista de 1717, a Grande Loja de Londres que dá a James Anderson a incumbência de redigir o respectivo Livro das Constituições.
No entanto esta Grande Loja não tinha influência sobre as Lojas de província, que se continuavam a guiar pelos ‘Antigos Deveres’, ‘Ancient Devoirs’ ou ‘Old Charges’ e que se organizaram na ‘Grande Loja dos Pedreiros Livres e Aceites Segundo as Antigas Instituições’, autodenominando-se ‘Antigos’, por oposição à Grande Loja de Londres, a quem chamavam ‘Modernos’. Com o tempo as diferenças esbateram-se e em 1813 dá-se a união das duas Grandes Lojas dando origem à Grande Loja Unida dos Antigos Pedreiros Livres de Inglaterra, que se mantém até aos dias de hoje. Nos trabalhos em Loja e principalmente na cerimónia de Iniciação, conservou todos os símbolos da Iniciação operativa cujo objectivo profundo é o de levar o iniciado ao Conhecimento pela sua iluminação interior.
Irlanda e Escócia
A Irlanda e a Escócia seguiram de perto o processo em curso na Inglaterra. Na Irlanda funda-se a Grande Loja de Munster a que sucederá, mais tarde, a Grande Loja da Irlanda, mais conservadora e alinhada com os ‘Antigos’ de Inglaterra. Desenvolveu e continua a desenvolver um importante papel filantrópico. Conta actualmente com mais de 50 000 membros, distribuídos por mais de 600 Lojas, das quais, mais de 100 estão sediadas no estrangeiro.
Como já se disse, foi na Escócia, na Loja Mary’s Chapel nº1 que foi admitido o primeiro Maçon ‘Aceite’, no ano de 1600. No entanto, a Maçonaria especulativa só se viria aqui a implementar depois de 1717 por inspiração na maçonaria inglesa. Apesar disso, manteve uma forte vertente católica dada a sua ligação à casa dos Stuart, mantendo-se alinhada com os ‘Antigos’. Tal como em Inglaterra, as Lojas que não se submeteram à autoridade de Mary’s Chapel nº1, formaram uma nova Obediência – The Mother Lodge of Kilwinning. À semelhança do que aconteceu em Inglaterra, estas duas Grandes Lojas acabaram por se unir, formando a Grande Loja da Escócia.
Estas três Grandes Lojas – a de Inglaterra, a da Irlanda e a da Escócia levaram a Maçonaria especulativa a todo mundo através da emigração, das Lojas Militares e dos Colonos.
França – Um caso especial
As primeiras Loas em solo Francês terão sido Lojas escocesas, bem anteriores à existência da Grande Loja de Londres. Depois da fundação desta e da abertura de Lojas a ela ligadas, com as duas corrente maçónicas em confronto – ‘Antigos’ e ‘Modernos’ – a Maçonaria Especulativa conhece em França um desenvolvimento prodigioso para o qual contribuem, sem dúvida, as Lojas de Adopção dirigidas por mulheres influentes que souberam contornar a proibição de admissão de mulheres à Iniciação.
As Lojas Escocesas e as Lojas inglesas em solo francês unem-se por volta de 1730, para formar a Obediência que viria a ser denominada Grande Loja de França. Fortes dissidências no seu seio levam à criação de uma nova Obediência, a Grande Loja Nacional de França, que em 1737 adopta o nome de Grande Oriente de França. Com uma estrutura interna inovadora e uma direcção onde têm assento deputados de todas as Lojas, ganha a adesão e simpatia da maioria dos Irmãos. Estas duas Obediências subsistirão até à Revolução. Sendo a divisa ‘Liberdade, Igualdade, Fraternidade’ comum aos princípios da Revolução e à Maçonaria, foi imputado a esta um papel determinante e desencadeador do processo. Tal não está provado, mas parece não haver dúvidas quanto ao papel importante das Loas Maçónicas ( a par de outras condicionantes) na implantação e disseminação.
Com Martini de Pasqually, Louis de S. Martin e Jean Batiste Willermoz surgem novas correntes no seio da maçonaria, privilegiando a sua vertente iniciática, esotérica, espiritualista e filosófica, por oposição à corrente anglo-saxónica, de vertente mais filantrópica e social. Estas duas correntes estão ainda hoje em presença.
Passada a Revolução e a ‘Época do Terror’, A Maçonaria, protegida por Napoleão tem um novo período de expansão. A maior parte dos oficiais de Napoleão eram Maçons e criaram Lojas em todo o lado por onde passaram.
As ideias democráticas, republicanas e anti-clericais ganam força no seio da Ordem e em 1877 o Grande Oriente de França suprime a obrigação de trabalhar ‘À Glória do Grande Arquitecto do Universo’ numa manifestação de tolerância para com todas as corrente ideológicas em presença na Obediência. Este facto levou de imediato ao corte de relações com todas as Obediências ‘Regulares’, nomeadamente com a Grande Loja Unida de Inglaterra (GLUA). As Lojas que se quiseram demarcar desta orientação separaram-se e formaram uma nova Obediência que mais tarde tomaria o nome de Grande Loja de França. É muito mais tarde que nasce uma outra Obediência, a Grande Loja Nacional de França, que é, até à presente data, a única a ser reconhecida pela GLUA.
Novas Obediência vão surgindo como a Grande Loja Nacional Francesa Ópera, a Ordem Mista e Universal do Direito Humano, a Grande Loja Feminina de França, e o Rito Antigo e Primitivo de Misraïm, para apenas nomear algumas.
A França é assim o primeiro país em que surge uma corrente maçónica que privilegia a sua vertente filosófica, esotérica e iniciática, o primeiro país onde são iniciadas mulheres e o primeiro país onde há Lojas maçónicas a trabalhar sob os auspícios de várias Obediências.
Alemanha
Como em toda a Europa, as primeiras Lojas nascem e organizam-se moldadas pela maçonaria Britânica, desde 1737. O número de grandes Lojas é elevado devido à parcelização dos estados alemães. Estas Grandes Lojas prosperam devido ao apoio de governantes e homens influentes. Destaca-se, de entre as mais importantes, a Grande Loja Real (mais tarde dita Nacional) dos Três Globos que antes da II Guerra Mundial agrupava várias grandes Lojas que no seu conjunto contavam mais de 600 Lojas e 67 000 membros. O regime nazi foi catastrófico para a Maçonaria Alemã. A maior parte das Lojas abateu colunas ou ‘adormeceu’. Só a Grande Loja de Hamburgo e a Grande Loja Simbólica da Alemanha continuaram a trabalhar no exílio – a primeira em Valparaíso, e a segunda em Jerusalém.
No pós-guerra (1958) as Grande Lojas que se constituíram entretanto, uniram-se entre si e às Lojas militares americanas inglesas e canadianas instaladas em território Alemão e formaram uma Obediência denominada ‘Grandes Lojas Unidas da Alemanha – Fraternidade dos Maçons Alemães’ que tem desenvolvido importante trabalho de pesquisa histórica.
Europa Central, de Leste e Balcans
Nestes países as primeiras Lojas maçónicas apareceram entre 1740 e 1800 e nalguns casos mais tardiamente, sobretudo lojas pertencentes a Obediências de outros países que nalguns casos se autonomizaram em Obediências nacionais. O seu crescimento foi ditado pelo apoio ou oposição encontrado junto dos sucessivos governantes. A II Guerra Mundial e depois, nos países de Leste, os regimes socialistas, foram fatídicos para a sua existência. Só muito recentemente a maçonaria ressurgiu, com a instalação de Lojas de Obediências estrangeiras. A pouco e pouco, vão-se tornando independentes e formando Obediências nacionais.
A Suiça
A Organização da Maçonaria na Suiça é moldada pela sua organização política e administrativa sendo como é um país com três línguas diferentes e organizado em Cantões .
É em 1736 que alguns ingleses fundam a Loja Sociedade dos Maçons Livres, em Genebra. A partir daqui outras Lojas e Obediências vão surgindo, dependendo da respectiva localização geográfica e administrativa. Em 1844 foi conseguida a união de todas as Lojas suíças sob o nome de Grande Loja Suiça Alpina, que perdura até hoje.
Além dela, outras Lojas pertencentes a Obediências estrangeiras e à Federação Internacional do Direito Humano trabalham também em solo suíço. As Lojas femininas criadas pela GLFF tornaram-se independentes formando uma obediência feminina – a GLFS.